sexta-feira, 31 de maio de 2013

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

pílula #20.848 do 73

nosso homeless-com-casa está passando uma temporada oficial na sala, porque estamos hospedando, por um mês, duas hermanas que vieram estudar-passear por aqui. ele, como já fica por lá mesmo, acabou cedendo o quarto para os arranjos necessários para a tal recepção. chegou até a levar o seu próprio colchão, roupas de cama e um criado mudo com alguns pertences. até aí, por curioso que seja, tudo dentro da normalidade.

mas, esses dias, tava eu indo buscar um café pra aguentar o serão noturno quando sou atingida pela imagem do menino dormindo no chão da sala. no chão mesmo, enrolado num cobertor azul.

não me detive, e fui lá atormentar:

– diego, pelo amor de deus! que cê tá fazendo?

e ele resmungou qualquer coisa do gênero de que precisava acordar cedo, que se tivesse conforto não ia conseguir acordar... e voltou a dormir pesadamente. no chão. da sala.

eu quis tirar uma foto, mas considerei que já havia ultrapassado alguns limites indo lá acordar o menino que dormia tão tranquilamente. daí não tirei. mas, deus do céu!

depois, eu ainda me senti um pouco culpada: por que me senti tão ofendida com aquilo? será que minhas considerações sobre uma certa dignidade humana são muito restritas? será que ele não vive bem do jeito que vive? o que, afinal, é viver bem? deus do céu! como pode?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

era uma vez um amor que eu nunca tive,


*


porque o amor sempre foi um problema
justamente porque nunca foi
problema


**


// um dia eu canto ré muito menor


***

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

daquele instante em diante


[mensagem emocionadamente (sic) enviada]

pra serena assumpção, pro rogério velloso,


sabe? eu tô aqui, desde o dia do lançamento do documentário, tentando elaborar algo que caiba num texto pra falar sobre o filme. e eu sei que a minha contribuição seria mínima, mas, ainda assim, eu queria e queria muito escrever,  pois gosto de falar pros quatro cantos (possíveis) do mundo sobre aquilo que me encanta, que me apaixona. é um jeito também, eu penso, mais ou menos um jeito de tomar parte das coisas. 

mas, sabe? eu tô aqui, sempre quando leio um comentário e ainda agora depois de ler o belíssimo texto do kiko sobre o filme, e acabei de entender porque eu não consegui sair um pouco de mim mesma, e objetivar em uns poucos parágrafos minimamente organizados alguma idéia. e sabe o que tá sendo?

o documentário teve pra mim o tamanho e a forma de um acontecimento. eu não consegui me separar dele porque ele me tomou. a impressão que consigo traduzir é que "daquele instante em diante" conseguiu assumir o conteúdo e a forma da própria obra do itamar (seu pai, serena... seu pai, meu). uma obra de conteúdo e forma inseparáveis, que tem como efeito aquilo que eu penso que se pode chamar de arrebatamento. talvez seja mesmo o caso de dizer: de uma nova gramática, um outro universo com condições de possibilidade cujas regras não são aquelas às quais estamos confortavelmente habituados. tudo o que se diz sobre o caráter provocador ou de que ele não fazia quaisquer concessões, penso que é uma tentativa mínima de reduzir - talvez pra entender - esse efeito de arrebatamento que, inevitavelmente, o tal do assumpção de sampop (como eu gosto desse epiteto!) causa, quer dizer, produz. 

e eu nunca cheguei a ver um show dele, mas a obra dessa tal de vanguarda paulista foi sempre presente em minha vida. é como se eu tivesse nascido conhecendo. um dia, com um café ou uma cerveja, eu conto da mãe, eu conto da dona lilly. mas, bom, isso é coisa minha.

de todo modo, eu me lembro que a alice ruiz disse algo como: o itamar investiu no novo, e quem investe no novo tem que estar preparado para ser póstumo. e é justamente por isso: a novidade tira o conforto de um mundo explicável - ou mininamente traduzível - porque, mais do que modificar, introduz novas condições e novas (e infinitas, porque desconhecidas) possibilidades.

é isso, rogério: você conseguiu expressar em uma outra linguagem (a do cinema) aquilo que o itamar fez (na música, na perfomance, no esquema, na pessoa). e conseguiu também a proeza de fazer isso sem aproximar o itamar de um deus, por assim dizer, “ocidental”. quero dizer: você não precisou atribuir à genialidade dele um caráter de perfectibilidade. pelo contrário, mostra um itamar sobretudo humano - não consigo esquecer a fala, acho que da tata fernandes - de que era preciso alguém que cuidasse um pouco melhor da produção dos discos... 

só que é isso também: você convidou o espectador pra tomar um café. e eu, enquanto espectadora, aceitei o convite. e eu não consigo sair por aí contando das minhas conversas de café: elas são tão minhas, são tão, eu diria na falta de uma palavra melhor, subjetivas.

enfim, eu tô escrevendo tudo isso pra dizer, mais uma vez, que: obrigada, foi um acontecimento. foi arrebatador, transformador e intraduzível. (e quando os cafézitos assumem pra mim essa forma grandiloquente, eu fico com um pouco de medo, sabe?) e também queria dizer que, no que eu puder contribuir pra que mais e mais pessoas vejam, quero e vou fazer. é só dizer, eu faço.

um beijo enorme, um abraço apertado e carinhoso. - e uma felicidade imensa, um amor transbordando por ter vocês, cada um ao seu modo, presentes. - e, sabe, né: eu adoro presentes!

mas um beijo, mais um afeto,
anita.


domingo, 3 de abril de 2011

apaixonar(-se)

(i) destransitivei de vez o verbo; (ii) aspectei continuamente.

sábado, 19 de março de 2011

como se fosse um coração partido em solidão despido da tua insensatez

[pro filipe catto, entre aquele quarto e a roupa do corpo]


sexta-feira, 18 de março de 2011

Carta do Maurice pro John - ou sobre uma revolução nos livros infantis

saiu dia desses no blog da cosac naify a minha primeira empreitada tradutiva. assim que  tiver um tempinho, comento as opções que fiz na tradução (que tarefa quase ingrata - digo, optar e comentar). antes disso, registro aqui no (nada) diarinho.

 

Caro John


Rascunho de John Burningham para Hora de sair da banheira, Shirley!


Texto de Maurice Sendak publicado em John Burningham (Random House, 2009) e dedicado ao amigo, autor de Fique longe da água, Shirley! e Hora de sair da banheira, Shirley!.


*


Acabo de devorar seu novo livro. Estou maravilhado e também extremamente irritado, pois nunca captei você completamente. O seu trabalho, John, é impactante, delicioso, sexy, cômico, misterioso, e, na maioria das vezes, maluco. Você deve saber que somos duas das crianças de muita sorte que se beneficiaram com a explosão gráfica que começou depois da II Guerra Mundial, da qual imagens incríveis foram reconstituídas nas páginas da revista Graphis.
No empolgante início dos anos 1960, Borka e Onde vivem os monstros (Cosac Naify, 2009), publicados em 1963, foram livros ilustrados que, resultado daquele tempo, surgiram de uma maneira selvagem e inovadora. Era o fim dos livros piegas do afetado século XIX, que privaram as crianças de sua natureza animal, de sua imaginação indomável e do seu tesão por viver.
O mundo dos livros infantis na Inglaterra respondeu imediatamente à nova revolução gráfica. Os ingleses tinham uma vantagem incrível, com um histórico de artistas que remonta a George Cruikshank, Arthur Hughes, Tenniel and Dickie Doyle (para citar só alguns). Esse mundo recém chegado de publicações avançou muito. Os Estados Unidos demoraram demais para começar, não tínhamos nenhuma publicação infantil digna de nota. Aqui havia só algumas coisas dispersas – você sabia que Winslow Homer ilustrou Three blind mice [Os Três Ratos Cegos]?
Aposto que, como eu, você não fazia ideia de como era ou deveria ser um autêntico livro para criança. No sossego dos anos 1950, eu fiz o melhor que pude para seguir as formas estabelecidas para um livro infantil típico. Eu copiava ou roubava freneticamente dos poucos ilustradores originais que cruzavam meu caminho. Na minha santa ignorância, eu me hachurava todo tentando parecer com Edward Ardizzone e George Cruikshank, e tentava aprender o que era um livro ilustrado de verdade com Randolph Caldecott e William Nicholson.
Tive de enfrentar muitos manuais, muitas convenções, mas por fim criei minha própria concepção do que é um livro para criança – exatamente como você deve ter feito.
Os anos 1950 foram tristes e fantásticos – um tempo de perfeito aprendizado. Não se ganhava muito dinheiro, e então nós bagunçamos tudo e ajudamos a criar um novo mundo de livros para criança – que fosse mais próximo do seu universo de faz-de-conta. Criamos um mundo rico em ilustrações e resultados espetaculares obtidos com os processos avançados de cor e impressão. Os anos 1960 foram o início da minha nova vida criativa e, suponho, também da sua. As amarras repressoras do mundo dos livros infantis do século XIX foram libertas, e nós estávamos a todo vapor.
Eu sou apenas um fã, John, um fã dedicado e sempre entusiasmado – só não suporto os oito anos que tenho a mais que você. Quanta diversão tivemos, e, com sorte, teremos muito mais pela frente. Que estranho se descobrir jovem apenas na velhice.


Maurice Sendak
Connecticut, outono de 2008

[Tradução de Ana Cláudia Silveira]

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um abraço e [...]

[...]

Quanto à iniciação, ainda não consigo descrever (das coisas que posso contar) tampouco resumir. Mas posso dizer que tem sido - porque eu fico de quelê até meados de abril -, como todos dizem, uma experiência transformadora. Nada de grandiloquente, fato; aliás, tudo muito muito muito simples. Muito. Mas é claro que só o fato de ter ficado reclusa (reclusa mesmo!) por 16 dias com mais 04 (!) pessoas já teria sido transformador, e ficar reclusa nas condições em que a gente fica, quero dizer, com todo o preceito, faz disso uma experiência muito bonita. Tem, sim, algo que seria como uma busca por "autoconhecimento", mas esse não é o mais importante. O que é o mais importante? Bem, [...]

E, sim, tô de branco, na esteira, bebendo bastante chá de colônia, não saindo muito de casa, não olhando nos olhos das pessoas, não me olhando no espelho, dormindo na roça toda sexta etc, e aproveitando o tempo pra ler bastante, ouvindo alguma música, e basicamente só isso. Aliás, [...]

Um abraço (porque abraço de mentira eu posso mandar),

Anita

domingo, 6 de fevereiro de 2011

acorda, menina!

no mood do verão-iaô 2011, eu compartilho o lanchinho da tarde de domingo:

2 fatias de pão de forma
geléia de framboesa (assaltada da coleguinha)
fatias de queijo minas (assaltadas do coleguiha)
1/2 maçã fatiada

é só montar o sanduiche, que é muito bem acompanhado por um chazinho refrescante de colônia . uma delícia!


nota: com essa coisa de vestir branco e compartilhar receitinha, é impossível não remeter à personagem preferida das manhãs do vanessão .

sábado, 5 de fevereiro de 2011

- você ia pra direita ou pra esquerda?

num meio pensamento achei que nunca ia me lembrar daquilo, mas a outra metade veio rápida:

- eu entrava à direita, e o quarto ficava à esquerda - respondi, já assustada com a memoria da imagem daquele corredor de paredes brancas, que parecia gigantesco naqueles dias.

luíza, como prefiro chamá-la aqui, afirmou com a cabeça, que, sim, ela certamente tinha cuidado daquele término, pois eu tinha indicado, precisamente, a enfermaria que ficava sob sua responsabilidade. eu, ainda assustada pensava que nunca poderia lembrar daquilo, mas lembrei e, de novo, foi assustador. não um susto ruim, mais uma surpresa.

só que surpreendente mesmo foi me dar conta de que a mulher que cuidou dos últimos dias da vida da minha mãe, - um pouc
o antes do (dr.) tio fernando liberar o conhaque- há 16 anos, é a mesma que cuidou, agora, dos primeiros dias da minha nova vida. luíza é medica e é mãe.

pra direita ou pra esquerda? não, aqui mesmo. aqui mesmo é surpreendente.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

de cada 100

para aprender a amar determinada pessoa, dia desses eu aprendi que:

50% do que ela fala é verdade
25% é mentira
e 25% é alucinação

assim, descontada a alucinação - porque a mentira (ou a mentirinha), vá lá, pode fazer parte do amor - tudo ficou mais simples.

sábado, 1 de janeiro de 2011

picareta do capeta que sou, digo que volto logo e nunca mais apareço. a cabeça é maluca mesmo, fazer o quê? e a vida não fica muito atrás disso. má tamo aí. o café, a groselha e o texto (eu diria também o vomitório, mas deixa pra lá) ficaram rendidos, e agora vão ficar um pouco mais.
eu vou, mas eu volto. não digo quando, mas digo que sim.
um beijo, uma boa sorte e todo lo demás!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

sobre política e religião - mais 5 minutinhos

O Bruno pediu outro café, o Oliver também e a gente continuou a discussão. Como eu to ansiosa - e feliz com essa conversa -, vou rascunhar algumas coisinhas mais. Mas já peço desculpas, porque o meu tempo tá curto hoje. Má lá vai:

De saída, parece claro que o que incomoda verdadeiramente é o modo como as questões tem sido abordadas no recente debate político (Aliás, que palhaçada a resposta do Serra no JN, hein?). Uma certa apropriação (inapropriada) das tópicas, cujo objetivo é antes angariar votos, ou melhor: vender uma imagem que seja facilmente comprada por alguns grupos religiosos, do que propriamente colocar em debate as polêmicas. Mais o marketing que a política. Tendo isso em vista, vou focar menos a questão no debate eleitoral, e mais no que eu por ora considero interessante.

Em primeiro lugar, eu não acho que deva existir um "meio termo na relação entre religião e política". Quando disse que o debate político deve abranger também as posições religiosas, falava mais contra um certo princípio de neutralidade, do que a favor de uma relação definitiva entre política e religião. De acordo com esse "princípio de neutralidade", no geral, quando não se pode tratar de certas questões de ordem moral ou de valores privados, não se trata, não se discute, não cabe ao Estado decidir sobre elas. No entanto, eu acho, não é disso mesmo que nem eu nem Bruno nem Oliver estamos falando, afinal, o próprio debate mostra que esse princípio é falacioso na medida em que cabe, sim, ao Estado ter em tela certas questões que, por meio da justiça, são determinantes na vida dos cidadãos. Nesse sentido, o que eu quero dizer é que não se deve, de saída, desconsiderar certas posições religiosas simplesmente porque, hoje, elas dizem respeito à vontade de um certo grupo que também compõe o corpo do público. O problema, é fato, é que certas questões são tratadas por certos religiosos como "dogmas", e, na axiomática religiosa, eu entendo, não há discussão.

Agora, como fazer com que dogmas sejam discutidos? É fato, não se discutem. Mas é fato também não podem predominar o debate, porque limitariam os direitos que uma outra parcela - não participante desses mesmos dogmas. Aqui eu faço um recuo e digo que não posso concordar quando o Bruno afirma - e acho que nem ele concorda - que separar religião de política significa "orientar a política para abranger a opinião de todos ou o máximo possível de cidadãos. Se as regras de um grupo forem aplicadas a todos, haverá uma considerável parcela não atendida.". Descordo porque tendo a maioria (ou o que é o mesmo "o máximo possível de cidadãos") pode facilmente atropelar a minoria, como já fez em vários casos desatrosos - e não preciso citar exemplos. Quero dizer: maioria não pode ser critério - ou talvez não possa ser o único critério de avaliação de certas questões. A tarefa mais importante no nosso caso, eu acho, é convencer um religioso justamente desse ponto: não é porque você abomina algo que não pode conviver (e prefiro conviver a coexistir) com ele: não é porque você abomina o aborto que não pode conviver , e mais, concordar que o Estado ofereça "dignidade" a quem o faz.

Repondo a questão de "como se discute com que não se discute?", e sofrendo bastante com ela, tento abrir uma fresta na janela dizendo que a política tem como elemento necessário, mas não suficiente, ser um espaço de formação da vontade dos cidadãos. E que, por princípio - ao menos eu acho que é um princípio - na medida em que esse espaço é constituído por vozes múltiplas - (thanks God! rs.) é preciso formar os ouvidos e as práticas de modo que possam lidar com a diversidade em questão. Como fazer isso? Honestamente, eu não não sei dar uma solução definitiva, mas acho que é possível elencar alguns passos. Eu vou elencar um agora, porque, desculpem, como eu disse, preciso sair correndo:

Esse primeiro passo seria abrir uma fresta de tolerância. O argumento consistiria em dizer justamente que "não é porque você abomina algo que não pode aceitar que outro faça". Ele tem um limite claro que é "não fazendo debaixo dos meus olhos, problema de quem fizer". É bem aquela papo que meu avô sempre me dizia sobre gays: ah, eu não tenho problema como homossexualidade, só não gosto de bicha afeminada (sic - meu avô falava assim mesmo) nem de dois homens ou duas mulheres saindo por aí de mão dada - que dirá se beijando na mesma calçada que eu. Eu exemplificaria aqui até a posição da Marina Silva, que disse não ser contra a homossexualidade, ainda que não seja a favor da união civil entre gays; quer dizer: façam, mas eu, pessoalmente, não acho que gays tenham os mesmos direitos que não gays. Tolerância é pouco? Muito pouco. Mas já é uma aberturazinha...

Eu volto aqui mais tarde, mas como já demorei um dia pra responder - o que nessa urgência virtual pode ser muito -, deixo aqui a minha contribuição nesse rascunho inacabado.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

sobre política e religião, em 5 minutos

Pro Bruno (@bmsnts) - "RT: um dia, eu espero, religião e política estejam bem distantes."

Muito se tem discutido recentemente acerca da problemática relação entre tópicas que se dizem "políticas" e tópicas "religiosas". Falo da disputa de temas que no campo da religião são da ordem do pecado e que acabam por permear o debate político de modo a, no caso que pretendo tratar, direcionar o debate eleitoral, e que divide as posições, grosso modo, em dois grupos: de um lado, o grupo religioso, de outro, o grupo "politizado". O primeiro, resumirei, consiste naquele grupo que não deseja um país no qual o aborto ou o casamento entre homosexuais, por exemplo, sejam permitidos. Já o segundo deseja um país no qual política e religião "não se misturem". De saída, digo que não concordo nem com uma nem com outra opinião. E respondo o porquê.

O primeiro grupo parece entender que no âmbito do Estado, ou melhor, da Legislação, devem reger os princípios segundo os quais são regidos o seu próprio modo de vida. Quero dizer, (o que se nos afigura como) a maioria cristã deseja uma nação na qual vigorem certas prescrições que conduziriam o indivíduo a uma vida digna perante os olhos de Deus, que garantiriam a moral que convém aos pios, e que, adiante, permitiriam uma vida eterna e gloriosa ao lado do Pai. Ou seja, não basta a punição que Deus reserva aos ímpios: deve haver também criminalização e (ao menos indicativa de) punição por parte do Estado. O segundo grupo, curiosamente, não tem de início uma postura muito distinta do primeiro. O grupo que não deseja que questões de Estado se misturem com questoes de conduta moral quer também que a Legislação e, aqui, o "debate", sejam regidos por princípios que dizem respeito ao seu próprio modo de vida. Sim, ao seu próprio modo de vida. Ao que parece, são indivíduos que, tendo crença ou não, moralidade "alargada" - sim, moralidade - ou não, entendem que não concerne ao debate político a discussão e, por conseguinte, a determinação de normas jurídcas concernentes a certas concepções "individuais" de vida. De minha parte, considero as duas posições perigosas: com nenhuma delas se discute. Mas, ainda preciso dizer que considero a segunda um tanto mais perigosa que a primeira. Isto porque ela assume ares de "abertura" - ora, se você quer ir pro céu, problema seu. -, quando na verdade é tão restrita quanto a primeira.

Acho, sim - verdadeiramente-, que o debate político deve concernir a questões de ordem "religiosa". E isso porque, ao que parece, os "indivíduos", os eleitores, os cidadãos desejam que a questão seja colocada em pauta. O grande problema em questão é que a religião está pautando a política no momento em que não deveria pautar; afinal, não teremos tempo - e nem os candidatos parecem querer fazê-lo - para discutir efetivamente a questão. Resta, por ora, uma briga surda por votos. Como com surdez - e falo daquela com a qual tanto Serra quanto Dilma tem conduzido os momentos propiciados para discussão - não se discute "democraticamente", é evidente que a posição "dos religiosos" vai incomodar, isto é, ao menos a mim incomoda bastante. No entanto, dizer que política e religião não devem se misturar é uma redução tal que pode ter desdobramentos perniciosos. Ou queremos um outro Sarkozy (o que é meramente uma aparente laicização da ordem pública quando na verdade se trata da imposição de um único modo de vida?).

Do meu ponto de vista, o debate político não deve ser só permeado por temas (aparentemente) neutros da ordem econômica ou... ou... ou o que mais mesmo? O debate político tem que estar aberto a temáticas de ordem "moral", não só porque "as pessoas parecem se importar com isso", mas principalmente porque, como temos visto, elas são, antes, questões de ordem jurídica; e Justiça é questão de Estado, e Estado também - e principalmente - se constrói no debate público. Um debate aberto? Sim. Um público amplo? Também. A pergunta é: assumindo que uma discussão pública é demorada, exige ao menos respeito diante de posições diversas, queremos verdadeiramente(construir) esse debate?

domingo, 12 de setembro de 2010

pausa pro anti-democrático

- ou de um momento de profunda irritação com a festa-do-caqui-pós-moderno-escatológica-sem-mais (tem que ter tudo junto pra configurar o caso)

Tem publicação por aí que merecia ter no pé da catalogação qualquer coisa como:

"Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação gravíssima do respeito mínimo à capacidade cognitiva do leitor."

domingo, 22 de agosto de 2010

doce.lossi.logun

o presente guardado tinha a finalidade de susbtituir a tesoura de unha usada em surtos de vaidade e auto-suficiencia no corte dos cabelos. achei que vinha do vagner, o irmão-amigo que entende das tesouras; quando, na verdade, o agrado vinha de Logun, filho bonito e traquinas, que resolveu presentear a mãe que tá pra nascer. Lògún Ëdë kékére Ödë mojùba o.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ouvi dizer que acontecia de você esquecer o celular, perder a carteira, atrasar um compromisso. achei bobagem. teve gente até que escreveu que não dava nem pra atravessar a rua, e teve gente que leu como se se tratasse de algo grandiloquente, sábio, epifânico. eu acho que é assim mesmo: atrasa o celular, esquece a carteira, perde um compromisso, vai pro hospital atropelada, e nota um tubo extra de pasta de dente jogada na necessaire (obtido, veja só, num clepto-freudian slip). do sábio e do grandiloquente, resta a epifania - daquelas bem pequeninhas, sob medida pra gente boba feito eu.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

.história de uma pergunta

dia desses eu resolvi andar três séculos no tempo. não era porque eu tinha me cansado daquelas perucas, daquele mecenato, daquela coisa toda de natureza e sistema e método. não era nem por causa da ideia ou da representação ou da proposição 7. era mais porque uns dias antes eu tinha contado uma historinha pra mim mesma, na qual eu dizia que não adiantava eu botar o francês de unha comprida pra brigar com o moço de yale nem insistir que a dona do catatau, apesar de sua imponencia influente (ou vice-versa), não estava lá muito certa naquelas coisas que ela tinha importado subrepticiamente daquele outro francês que eu não sei se tem unhas compridas - mas sei que andava com uns sujeitos aleatórios. na minha historinha eu contava era que toda aquela discussão - a das perucas, a das ideias - só ia fazer sentido pra mim se eu entendesse o que motivava aqueles comentários tão divergentes. daí eu resolvi que devia aproveitar essa coisa minha de querer olhar mais em volta, daí eu resolvi mudar um pouco a pergunta

segunda-feira, 7 de junho de 2010

eu acho que entendi: mérito só vale no fim se não vale no começo.

domingo, 25 de abril de 2010

. tributo

esses silêncios
vagos
descalços
no azulejo



muy grata
por el todo
 silêncio

sexta-feira, 16 de abril de 2010



bota a roupa pra quarar


que hoje é dia de branco


hoje é dia de oxalá

quarta-feira, 14 de abril de 2010

recolhendo os cacos da noite de ontem, pensei, por três segundos, em todos os momentos em que fomos felizes

juntos

terça-feira, 13 de abril de 2010

O PÁSSARO INCUBADO

O pássaro preso na gaiola
é um geógrafo quase alheio:
Prefere, do mundo que o cerca,
não as arestas: o meio.

É isso que o diferencia
dos outros pássaros: ser duro.
Habita cada momento
que existe dentro do cubo.

Ao pássaro preso se nega
a condição acabado.
Não é um pássaro que voa:
É um pássaro incubado.

Falta a ele: não espaços
nem horizontes nem casas:
Sobra-lhe uma roupa enjeitada
que lhe decepa as asas.

O pássaro preso é um pássaro
recortado de seu domínio:
Não é dono de onde mora,
nem mora onde é inquilino.

[Cacaso. O Lado de Dentro]

sexta-feira, 9 de abril de 2010

spinoza sem strass

quando eu penso num certo terceiro-genero-zen-budista-do-conhecimento, tenho dor no estomago, deito e quase choro. lembro de todas as não-verdades que esse meu corpinho mal-fadado e pouco durável é capaz de me oferecer. viro um boi, ruminando nos meus agora dois estômagos doloridos: moi, moi, moi, esqueço a dor, enxugo as lágrimas e, por um momento, me contento com a possibilidade quase triste de pensar, sem conhecer, esse tipo de coisa. daí me dá uma preguiça, eu respiro e a única certeza que tenho é de que ainda preciso comer muita grama.

Análise estrutural

[...] Toma-se um segmento do autor, seccionado de seu contexto em pontos que indiquem uma articulação aparentemente natural (parágrafo, capítulo, passo da argumentação), e procura-se explicá-lo internamente, isto é, com os próprios recursos que ele oferece. Unicamente esse segmento é colocado em tela: o contexto - assim como o restante da obra - ficam reduzidos, provisoriamente, à simples condição de gramática ou dicionário, a que se pode recorrer quando alguma exigência do texto solicitar. O texto, nessa sua materialidade, será interrogado conceitualmente, e não tematicamente: não se procurará saber o que ele diz - muito menos o que o autor quis dizer - mas como ele funciona; não os conhecimentos ou informações de que ele seria "veículo" - eventualmente, a respeito do "pensamento do autor" - mas o que acontece nele. Uma etapa posterior - e bem distinta, que pressupõe o término dessa primeira abordagem aparentemente formal - é o comentário, em que então se discutirão as idéias construídas pelo texto que foi analisado e suas implicações mais gerais.

[TORRES FILHO, Rubens Rodrigues]

domingo, 4 de abril de 2010

palae

o menino ali do lado queria uma carta de palae. ele cansou dessa vida de tela, teclas e imediatidão. eu acho que o menino queria também um amor. um amor bonito. dessa vez, um amor de papel, de pauta e de caneta. um amor que ele ainda não teve. eu não vou dizer nada pro menino porque ele parece muito contente com a mudança da caixa de entrada pra caixa postal . mas,

sábado, 3 de abril de 2010

Os dias passam

Lembra daquela água verde
onde os dois mergulhavam
e todos olhavam?

Tua pele suava
na água
teu olhar preto
afogava

A vida era tanta -
deslembrava

[Chico Alvim. Elefante]

quando eu crescesse

tava no samba, era a mais bonita. dançava, sacudia o chão. sorria, encantava a todos madrugada a dentro. mal se sabia, no entanto, que quando ela botava a mão no peito e cantava "se eu tivesse que chorar, chorava no meio da rua" com um gesto cheio de altivez, a vontade mesmo - e eu falo daquela que sai do fundo de qualquer lugar que a ciência mal explicou, mas que o samba conhece bem -, era extirpar aquele pranto pesado, doído que carregava . coisa que sambista sabe fazer também: sorrir do que dói, cantar pro mundo com alegria aquele aperto do peito, esquentar o pandeiro com a tristeza do coração: quando eu crescesse, eu queria ser sambista.