[...] Toma-se um segmento do autor, seccionado de seu contexto em pontos que indiquem uma articulação aparentemente natural (parágrafo, capítulo, passo da argumentação), e procura-se explicá-lo internamente, isto é, com os próprios recursos que ele oferece. Unicamente esse segmento é colocado em tela: o contexto - assim como o restante da obra - ficam reduzidos, provisoriamente, à simples condição de gramática ou dicionário, a que se pode recorrer quando alguma exigência do texto solicitar. O texto, nessa sua materialidade, será interrogado conceitualmente, e não tematicamente: não se procurará saber o que ele diz - muito menos o que o autor quis dizer - mas como ele funciona; não os conhecimentos ou informações de que ele seria "veículo" - eventualmente, a respeito do "pensamento do autor" - mas o que acontece nele. Uma etapa posterior - e bem distinta, que pressupõe o término dessa primeira abordagem aparentemente formal - é o comentário, em que então se discutirão as idéias construídas pelo texto que foi analisado e suas implicações mais gerais.
[TORRES FILHO, Rubens Rodrigues]