segunda-feira, 1 de agosto de 2011

daquele instante em diante


[mensagem emocionadamente (sic) enviada]

pra serena assumpção, pro rogério velloso,


sabe? eu tô aqui, desde o dia do lançamento do documentário, tentando elaborar algo que caiba num texto pra falar sobre o filme. e eu sei que a minha contribuição seria mínima, mas, ainda assim, eu queria e queria muito escrever,  pois gosto de falar pros quatro cantos (possíveis) do mundo sobre aquilo que me encanta, que me apaixona. é um jeito também, eu penso, mais ou menos um jeito de tomar parte das coisas. 

mas, sabe? eu tô aqui, sempre quando leio um comentário e ainda agora depois de ler o belíssimo texto do kiko sobre o filme, e acabei de entender porque eu não consegui sair um pouco de mim mesma, e objetivar em uns poucos parágrafos minimamente organizados alguma idéia. e sabe o que tá sendo?

o documentário teve pra mim o tamanho e a forma de um acontecimento. eu não consegui me separar dele porque ele me tomou. a impressão que consigo traduzir é que "daquele instante em diante" conseguiu assumir o conteúdo e a forma da própria obra do itamar (seu pai, serena... seu pai, meu). uma obra de conteúdo e forma inseparáveis, que tem como efeito aquilo que eu penso que se pode chamar de arrebatamento. talvez seja mesmo o caso de dizer: de uma nova gramática, um outro universo com condições de possibilidade cujas regras não são aquelas às quais estamos confortavelmente habituados. tudo o que se diz sobre o caráter provocador ou de que ele não fazia quaisquer concessões, penso que é uma tentativa mínima de reduzir - talvez pra entender - esse efeito de arrebatamento que, inevitavelmente, o tal do assumpção de sampop (como eu gosto desse epiteto!) causa, quer dizer, produz. 

e eu nunca cheguei a ver um show dele, mas a obra dessa tal de vanguarda paulista foi sempre presente em minha vida. é como se eu tivesse nascido conhecendo. um dia, com um café ou uma cerveja, eu conto da mãe, eu conto da dona lilly. mas, bom, isso é coisa minha.

de todo modo, eu me lembro que a alice ruiz disse algo como: o itamar investiu no novo, e quem investe no novo tem que estar preparado para ser póstumo. e é justamente por isso: a novidade tira o conforto de um mundo explicável - ou mininamente traduzível - porque, mais do que modificar, introduz novas condições e novas (e infinitas, porque desconhecidas) possibilidades.

é isso, rogério: você conseguiu expressar em uma outra linguagem (a do cinema) aquilo que o itamar fez (na música, na perfomance, no esquema, na pessoa). e conseguiu também a proeza de fazer isso sem aproximar o itamar de um deus, por assim dizer, “ocidental”. quero dizer: você não precisou atribuir à genialidade dele um caráter de perfectibilidade. pelo contrário, mostra um itamar sobretudo humano - não consigo esquecer a fala, acho que da tata fernandes - de que era preciso alguém que cuidasse um pouco melhor da produção dos discos... 

só que é isso também: você convidou o espectador pra tomar um café. e eu, enquanto espectadora, aceitei o convite. e eu não consigo sair por aí contando das minhas conversas de café: elas são tão minhas, são tão, eu diria na falta de uma palavra melhor, subjetivas.

enfim, eu tô escrevendo tudo isso pra dizer, mais uma vez, que: obrigada, foi um acontecimento. foi arrebatador, transformador e intraduzível. (e quando os cafézitos assumem pra mim essa forma grandiloquente, eu fico com um pouco de medo, sabe?) e também queria dizer que, no que eu puder contribuir pra que mais e mais pessoas vejam, quero e vou fazer. é só dizer, eu faço.

um beijo enorme, um abraço apertado e carinhoso. - e uma felicidade imensa, um amor transbordando por ter vocês, cada um ao seu modo, presentes. - e, sabe, né: eu adoro presentes!

mas um beijo, mais um afeto,
anita.