se algum dia ele teve sonhos, sabe-se lá onde ficaram. talvez num canto escondido de um pensionato frio, cheio de baratas e solidão. ou, quem sabe, naquele apartamento, sim, naquele em que os paetês brilhavam mais.
se algum dia ele realmente sonhou, se teve um daqueles sonhos que se pega, que se come, que são cheios de creme de confeiteiro e açúcar bonito por cima - daqueles que se compra numa padaria onde se entra bem vestido, bem acompanhado e afeito - ele não sabe mesmo onde deixou. talvez ele sequer já tenha sonhado.
acho que mamãe não lhe ninou o bastante. acho que mamãe nem lhe murmurou canções de ninar.
acho que ele nasceu de olhos abertos e nunca mais os fechou. coitado do menino.
coitado do menino que não aprendeu que um sonho é diferente do que ele tem. eu queria dizer pra ele: menino,