daí a amiga reclamou que o amigo não tinha mais amigos, tinha fãs.
ela deve ter ficado triste porque ele agora se equilibra entre as fotos no jornal, as publicações e as viagens. sobra pouco tempo pra amiga, que agora sente falta de sair junto só pra tomar cerveja, falar bobeira, falar da vida, falar dos outros, pedir conselho, opinar a respeito das políticas adotadas pelo governo do laos... depois, quem sabe, cair numa pista ouvindo uma sonzeira e dançando até morrer, contar que, sim, a rapariga ali do lado tá te paquerando, não porque você é um escritor famoso, mas porque você é meu amigo bonito que parece interessante, e, ou se despedir, desejando boa-sorte-não-esquece-a-camisinha, ou parar e tomar uma saideira e em seguida ir embora planejando o almoço de ressaca no dia seguinte.
amiga, eu também sinto falta disso tudo e de todo o resto. no entanto, eu escolhi, assim, quase sem escolher, esse outro jeito de viver, e nele sendo notado. eu sei que já não tenho mais tempo, e que, quando arrumo, de dez em dez minutos alguém atravessa a nossa conversa pra me perguntar quando sai o próximo ou como foi aquela viagem ou qualquer outra merda que eu já tô ficando cansado de responder. por outro lado, não é incrível que eu seja bem sucedido na minha quase escolha, e ganhe dinheiro, e seja reconhecido entre a gente bacana que gosta do meu trabalho? é... eu faço um troço que é assim mesmo: é pra gente notar. você e a camaradagem curtiram, muita gente notou. e agora a gente não pode mais fazer todas essas coisas públicas que os amigos fazem sem qualquer impedimento. mas, tava cá pensando... depois que eu voltar dessa viagem, que cê acha de me convidar pra tomar uma cerveja ou um vinho na sua casa? eu peço uma pizza, a camaradagem se achega, daí gente aumenta o som lá pelas três pro vizinho reclamar, esquece dos que são só fãs e não vão estar presentes, e faz todas aquelas coisas não públicas que os amigos fazem sem quaisquer impedimentos?